O árbitro Igor Benevenuto assumiu-se gay e se tornou o primeiro juiz do quadro da Federação Internacional de Futebol, a Fifa, a se declarar homossexual.
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"Meu nome é Igor Junio Benevenuto de Oliveira. Sou árbitro de futebol. A partir de hoje, não serei mais as versões de Igor que eu criei. Não serei o Igor personagem árbitro, personagem para os amigos, personagem para a família, personagem dos vizinhos, personagem para a sociedade hétero", afirmou o profissionais ao podcast "Nos Armários dos Vestiários".
"Serei somente o Igor, homem, gay, que respeita as pessoas e suas escolhas. Sem máscaras. Somente o Igor. Sem filtro e finalmente eu mesmo."
No depoimento à repórter Joanna de Assis, o árbitro relatou que cresceu "odiando profundamente" o futebol por conta do "ambiente, do machismo e do preconceito disfarçado de piada".
Ele, que disse saber que era gay desde cedo, também contou que montou um personagem para "sobreviver na rodinha" de meninos que viviam jogando bola.
"Não havia lugar mais perfeito para esconder a minha sexualidade. Mas jogar não era uma opção duradoura, então fui para o único caminho possível: me tornei árbitro", acrescentou.
"Os gays costumam não ser eles mesmos. Passei minha vida sacrificando o que sou para me proteger da violência física e emocional da homofobia. E fui parar em um dos espaços mais hostis para um homossexual. Era por saber disso que eu odiava o futebol", comentou Igor, que atua na área há 23 anos.
Mineiro, o juiz ainda disse que sempre foi levado a estádios para assistir a jogos de Cruzeiro, Atlético e América-MG, mas que não conseguia torcer para nenhum time.
Igor contou que sua paixão por mediar partidas surgiu durante a Copa do Mundo de 1994, quando a Fifa trocou o uniforme preto dos árbitros por cores fortes e ele ficou enfeitiçado por isso.
Ele disse que passou a ser comparado pelos rapazes que jogavam a Margarida, apelido pelo qual ficou conhecido o árbitro Jorge José Emiliano dos Santos, falecido em 1995, e que usava uniforme rosa e era abertamente gay.
"Para os moleques, essa era a forma de me atingir. Ser comparado a ele, ser chamado de gay era uma ofensa e eu não poderia levar numa boa, afinal interpretava meu papel hétero, em um ambiente hétero, rodeado de héteros", disse.
"Tenho atração por homens e não sou menor por isso. Não estou no campo por isso. Não estou procurando macho, não estou desejando ninguém. Não estou ali para tentar nada. Quero respeito, que entendam que posso estar em qualquer ambiente. Não é porque sou gay que vou querer transar com todo mundo, vou olhar para todos. Longe disso. Eu só quero respeito e o direito de estar onde eu quiser", desabafou.
"Nós, os gays no futebol, somos muitos. Estamos em toda parte. Mas 99,99% estão dentro do armário. Tem árbitro, jogador, técnico, casados, com filhos, separados, com vida dupla... Tem de tudo. A gente se reconhece. Eu brinco que temos um Wi-Fi ligado constantemente e que se conecta com o outro mesmo sem querer. Nós existimos e merecemos o direito de falar sobre isso, de viver normalmente", encerrou.
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