Primeiro presidente abertamente gay de um grande clube de futebol, Emerson Ferretti falou sobre as dificuldades que enfrentou no esporte e disse que há muitos que simulam vidas heterossexuais para não sofrerem discriminação.
"É claro que há muitos homens gays no futebol, mas isso é ignorado. Namoradas e até mulheres de fachada são mais comuns do que se imagina. Eu realmente entendo quem recorre a esse teatro. Não querem se tornar o centro das atenções, nem serem prejudicados por isso", analisou Ferretti, que preside o Bahia, em depoimento à Veja.
Para o ex-goleiro, sua carreira teria sido condenada se seu "segredo" viesse à tona.
Ele relata que entrou para a escolinha do Grêmio aos oito anos e que por ter jeito efeminado percebeu que precisaria se esconder se quisesse crescer no futebol.
"Foram décadas de solidão, inserido em um ambiente que não tem nenhum pudor em se demonstrar machista e cheio de preconceitos. Ao mesmo tempo, não queria abrir mão do meu sonho de ser goleiro. Morria de medo de ser descoberto", relembra. "Só fui ter coragem para me relacionar com outro homem depois dos 21 anos. Escondido, evidentemente."
Gaúcho de Porto Alegre. Ferretti nunca simulou namorar mulheres e aparecendo rodeado delas. Por causa disso, sua homossexualidade despertou suspeitas e fez com ele virasse alvo de piadas tanto no clube onde jogava quanto dentre os adversários.
"Meus próprios companheiros de equipe começaram a desconfiar de mim e a soltar piadinhas no vestiário. Já nos gramados, precisei de muita inteligência emocional para lidar com comentários de adversários e gritos homofóbicos da torcida, algo que ainda é totalmente naturalizado e corriqueiro nos estádios. A solução foi manter a atenção e me concentrar em obter o melhor desempenho entre todos na minha função."
Assumido desde 2022, Ferretti diz que só se sentiu saindo do armário "de verdade" no pré-carnaval deste ano quando foi fotografado ao lado de um homem, algo inédito em seus 52 anos de idade.
"Passei a refletir sobre os motivos desse desconforto e percebi quanto esse medo ainda está presente em mim. Mesmo sabendo que não estava fazendo nada de errado, sinto que enfrento um tabu, tamanho é o preconceito no meio em que atuo desde a infância."
Ferretti afirma que foi muito bem acolhido no Bahia e que falar sobre o assunto é uma forma de inspirar jovens homossexuais que gostam de futebol.
"Contar minha história é uma forma de inspirar meninos gays que pretendem ser jogadores a ter coragem de fazer o mesmo. Sinto que posso acabar com uma série de estereótipos, como o de que homossexuais não têm talento com a bola."
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