Irmã do comediante Paulo Gustavo, morto por covid-19, a produtora Juliana Amaral criticou o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido).
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"Sr. presidente, me disseram algo sobre o senhor ter postado condolências à minha família. Só agora tive forças de vir responder como o senhor merece, e o mínimo que eu posso lhe dizer é que, por coerência, nunca mais ponha na sua boca o nome do meu irmão", escreveu Juliana em suas redes sociais ao mostrar tatuagem feita em homenagem ao irmão.
E continuou: "Essa boca que disse não à vacina e condenou tantos à morte, essa mesma boca que debochou imitando pessoas com falta de ar, pessoas que viveram o horror que meu irmão viveu, não pode ser usada para pronunciar o nome dele nem lamentar a morte de todos os vitimados pela covid."
"Também espero que o senhor não despeje sobre minha família os seus mais sinceros sentimentos, pois eu não os aceito. Não sei que sentimentos tem um homem que deixa um país inteiro entregue à morte. Guarde pra você seus sentimentos e não nos obrigue a lidar com eles. Seus votos de pesar também peço que deposite em sua própria consciência, pois é sobre o seu governo que pesa a pior gestão desta pandemia mundial."
E concluiu: "Espero que o senhor saiba que meu irmão e você não tinham nada em comum. Vocês trafegam em vias opostas. Enquanto ele ia na estrada da vida, do afeto, da generosidade e empatia, o senhor vem pelas trevas, trazendo escuridão e morte. O Brasil que o senhor comanda carrega nas costas quase 500 mil filhos mortos, e dentre eles o meu irmão."
Juliana tatuou frase dita por Paulo Gustavo na última produção dele - "Rir é um ato de resistência" - juntamente com o apelido do artista na família, Tatau.
Na noite da morte de Paulo Gustavo, em 4 de maio, Bolsonaro divulgou em seu Twitter a mensagem: "Meus votos de pesar pelo passamento do ator e diretor Paulo Gustavo, que com seu talento e carisma conquistou o carinho de todo Brasil. Que Deus o receba com alegria e conforte o coração de seus familiares e amigos, bem como de todos aqueles vitimados nessa luta contra a covid."
O ator faleceu em decorrência da covid-19 após sete semanas e meia internado em hospital no Rio de Janeiro. Ele tinha 42 anos e não possuia comorbidades. Juliana era sua única irmã. Paulo deixou marido, Thales Bretas, e dois filhos com menos de dois anos de idade.
Bolsonaro tem histórico de desdenho da covid desde o início da pandemia, em março de 2020. O presidente imitou pessoas que não conseguem respirar, disse que a doença era coisa de "maricas" e chamou de "idiotas" pessoas que permanecem fazendo distanciamento social, dentre dezenas de outras falas e comportamentos públicos.