Por que texto sobre gays bombados no carnaval de Salvador é tacanho

Jornalista Bruno Brasil usa estereótipos, deturpação de conceitos e egolatria como estratégia argumentativa

Publicado em 30/03/2019
carnaval gay salvador barra ondina
O autor do texto criticado e Bolsonaro deveriam se abraçar e serem felizes: pensam igual

Por Welton Trindade

O samba atravessou. O bloquinho flopou. O carro da escola de samba quebrou. A sombrinha do frevo caiu. E o folião se bolsonarizou. 
É essa sensação de Quarta-feira de Glitter sem Brilho que fica ao ler o texto do jornalista e produtor de TV Bruno Brasil.

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O título do dito cujo: Os gays bombados que estão estragando o Carnaval de Salvador (clique aqui e prepare-se para revirar os olhos). 

Sabe aquela música 'marromeno' de Claudia Leitte (90% delas)? Esforço descomunal, produção até que caprichada, rebolada até o chão... Mas a vergonha alheia é que toma conta? Pois é! O texto aí é igual! 

Vejamos!

Resumidamente, o texto defende que gays bombados que vão a blocos de carnaval no circuito Barra-Ondina, por empurrarem pessoas, por não gostarem da música que ele gosta (egolatria pouca é bobagem), por não dançarem como ele quer (egotrip sem fim) estão acabando com o carnaval de Salvador. 

Sabe o lixo que fica na Avenida Oceânica após um dia de folia? Só isso que vem à mente ao percorrer aquelas linhas. Os dejetos se acumulam! Vindos de várias fontes.

Começa com a fissura do autor por ganhar o biscoito do dia! Ele afirma que os gays em questão são machistas por terem empurrado uma amiga dele. E o que vem logo depois? Ele próprio foi empurrado. 

Entendeu? Ele não! 

Se machismo fosse, ora, apenas mulheres sofreriam com tal postura. Se ele, homem, tem a mesma sina, onde está a misoginia? Pelo visto, o que caiu e quebrou quando ele foi empurrado foi o discernimento dele.

O pilar seguinte do texto é ainda mais tacanho. Tal como um presidente aí de um grande país da América Latina que pega uma cena do carnaval e a generaliza, o autor decreta que o carnaval de Salvador, o maior do Brasil em número de blocos, mais de 500, simplesmente não terá mais o que oferecer em algum tempo. 

Quer dizer: o jornalista teve problemas com alguns blocos, em um dos circuitos. E o efeito? Ah, carnaval inteiro está sob risco! Melhor fechar a cidade e fazer novena para Exu! 

É, a ideologia da "ditadura gayzista" tem adeptos até dentre quem curte a folia. Porque, sim, a visão dele é decalque daquela de qualquer bolsominion mais emperdenido.

via GIPHY

E sabe a cena de golden shower que é posta como se resumisse a diversão de milhões, aqui também o mesmo estratagema: parece que só nos blocos em que gays são maioria há empurrões. Incrível, não? 

Mas é isso mesmo, viu? Fora da Barra, a folia em Salvador é tal como um carnaval vienense, não sabia? É sim! Pipoca? Ah, você mal é tocado! Dá até tristeza! Pisão no pé? Imagine! Raríssimo!

E só conservador anti-folia tem discurso e estereótipo contra o uso de drogas? Quem dera! Aqui, também tem!

Veja o que o autor chega a dizer: "E eles carregam uma energia estranha. Pesada. Mesquinha e intolerante."

Sabe seu avô com pensamento das antigas que recheia argumentos contra as drogas com vários nacos moralistas, generalistas e preconceituosos? Entonces, seu avô tem um amiguinho para conversar e se identificar! Só não deixe eles irem para a Sodoma & Gomorra que é o carnaval na Barra, viu? Jesus "os livre"! 

Bolsonaro e Bruno, abracem-se e sejam felizes já que vocês são tão iguais! Vocês não merecem o banho (incluso o amarelo) da nossa alegria nem o calor úmido que vem de nós! 


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