Por Welton Trindade
O samba atravessou. O bloquinho flopou. O carro da escola de samba quebrou. A sombrinha do frevo caiu. E o folião se bolsonarizou.
É essa sensação de Quarta-feira de Glitter sem Brilho que fica ao ler o texto do jornalista e produtor de TV Bruno Brasil.
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O título do dito cujo: Os gays bombados que estão estragando o Carnaval de Salvador (clique aqui e prepare-se para revirar os olhos).
Sabe aquela música 'marromeno' de Claudia Leitte (90% delas)? Esforço descomunal, produção até que caprichada, rebolada até o chão... Mas a vergonha alheia é que toma conta? Pois é! O texto aí é igual!
Vejamos!
Resumidamente, o texto defende que gays bombados que vão a blocos de carnaval no circuito Barra-Ondina, por empurrarem pessoas, por não gostarem da música que ele gosta (egolatria pouca é bobagem), por não dançarem como ele quer (egotrip sem fim) estão acabando com o carnaval de Salvador.
Sabe o lixo que fica na Avenida Oceânica após um dia de folia? Só isso que vem à mente ao percorrer aquelas linhas. Os dejetos se acumulam! Vindos de várias fontes.
Começa com a fissura do autor por ganhar o biscoito do dia! Ele afirma que os gays em questão são machistas por terem empurrado uma amiga dele. E o que vem logo depois? Ele próprio foi empurrado.
Entendeu? Ele não!
Se machismo fosse, ora, apenas mulheres sofreriam com tal postura. Se ele, homem, tem a mesma sina, onde está a misoginia? Pelo visto, o que caiu e quebrou quando ele foi empurrado foi o discernimento dele.
O pilar seguinte do texto é ainda mais tacanho. Tal como um presidente aí de um grande país da América Latina que pega uma cena do carnaval e a generaliza, o autor decreta que o carnaval de Salvador, o maior do Brasil em número de blocos, mais de 500, simplesmente não terá mais o que oferecer em algum tempo.
Quer dizer: o jornalista teve problemas com alguns blocos, em um dos circuitos. E o efeito? Ah, carnaval inteiro está sob risco! Melhor fechar a cidade e fazer novena para Exu!
É, a ideologia da "ditadura gayzista" tem adeptos até dentre quem curte a folia. Porque, sim, a visão dele é decalque daquela de qualquer bolsominion mais emperdenido.
E sabe a cena de golden shower que é posta como se resumisse a diversão de milhões, aqui também o mesmo estratagema: parece que só nos blocos em que gays são maioria há empurrões. Incrível, não?
Mas é isso mesmo, viu? Fora da Barra, a folia em Salvador é tal como um carnaval vienense, não sabia? É sim! Pipoca? Ah, você mal é tocado! Dá até tristeza! Pisão no pé? Imagine! Raríssimo!
E só conservador anti-folia tem discurso e estereótipo contra o uso de drogas? Quem dera! Aqui, também tem!
Veja o que o autor chega a dizer: "E eles carregam uma energia estranha. Pesada. Mesquinha e intolerante."
Sabe seu avô com pensamento das antigas que recheia argumentos contra as drogas com vários nacos moralistas, generalistas e preconceituosos? Entonces, seu avô tem um amiguinho para conversar e se identificar! Só não deixe eles irem para a Sodoma & Gomorra que é o carnaval na Barra, viu? Jesus "os livre"!
Bolsonaro e Bruno, abracem-se e sejam felizes já que vocês são tão iguais! Vocês não merecem o banho (incluso o amarelo) da nossa alegria nem o calor úmido que vem de nós!