Onã Rudá, há pouco tempo, começou a ser conhecido em Salvador por estar nas articulações pela aprovação e futura sanção pelo prefeito do projeto chamado Teu Nascimento, que atualizou a lei contra ódio a LGBT.
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Com outra frente de trabalho, seu nome ganhou projeção nacional. Ele é principal articulador do Canarinhos Arco-íris, coletivo que reúne LGBT integrantes de torcida e que tem cobrado times e a seleção, via Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ações para superar a homofobia no esporte.
Seu desafio agora não é na arquibancada, mas na urna e com objetivo de se tornar vereador pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Veja abaixo suas propostas.
Como seu mandato pode contribuir para o avanço da cidadania arco-íris da capital?
Eu acredito que o mandato de um vereador é ferramenta de luta que precisa tratar dos mais variados debates. A câmara local é por onde passam as políticas da cidade, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Eu tenho proposta relacionada a empregabilidade, educação, cultura... Como a gente fortalece a cultura LGBT na cidade, que é cultura fortíssima, mais forte do que em muitos lugares, a moradia, a mobilidade... Quero levar para os mais variados aspectos da vida em sociedade a temática LGBT.
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do PCdoB. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
A gente tem no PCdoB um certo destaque para essa luta. Aqui na cidade nós temos trabalho muito positivo nessa luta. O PCdoB, por exemplo, é o partido que dirige a Secretaria de Trabalho, onde a gente conseguiu incorporar série de políticas relacionadas à empregabilidade LGBT em nível estadual.
A gente tem a Lei Teu Nascimento, que é articulação nossa, do movimento, mas quem apresentou foi a Aladilce [Souza], vereadora do PCdoB, engajadíssima, parceiríssima da luta LGBT aqui da nossa cidade.
A gente tem, enfim, um conjunto de ações e de pessoas que estão relacionadas a esse debate. Quando teve o debate do Plano Municipal de Educação, os professores do PCdoB se mobilizaram em defesa do debate de gênero e sexualidade nas escolas.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas a população de Salvador?
Uma tem a ver com trabalho, que é o Salvador no Corre, um aplicativo com área de compras, para quem compra conseguir comprar perto de sua casa, coisas baratas, bacanas, comida, serviços, e quem vende vai ter uma área com orientação, cursos on-line, assistência.
E vamos poder também cadastrar um conjunto de motoboys, que hoje em dia são explorados por aplicativos internacionais.
Outra proposta diz respeito à educação com cultura com escola aberta no final de semana com experiências de oferecer teatro e cinema,
Uma terceira proposta diz respeito à questão ambiental, que é a de conseguir tombar os espaços verdes da cidade.
Você conseguiu projeção nacional com seu trabalho à frente de ações para enfrentar o preconceito contra LGBT no futebol. Que aprendizados essa experiência lhe proporcionou?
É uma experiência positiva nos mais variados aspectos. A gente conversa com muitas pessoas que tiveram primeiro contato com essa temática por meio desse trabalho, e isso gera impactos muito bons. E estamos reunindo muita gente nos clubes de futebol. E tudo isso em ambiente, o futebol, onde há mais reprodução de violência homofóbica.
Eu sou muito grato ao universo por essa experiência, porque eu nunca pensei que ela pudesse ter esse grau de repercussão, esse impacto. Eu achei que a gente ia chegar, assisti nosso jogo de boa, era sempre essa nossa perpectiva, mas fizemos as pessoas começarem a pensar sobre isso.
Em Salvador, a esquerda não recebe muita adesão da população em geral. A que você atribui esse fato e como você pretende mudar isso?
Nas eleições presidenciais, a esquerda ganha em Salvador e ganha bem. Salvador é a capital onde Bolsonaro tem a maior rejeição. Entretanto, é uma cidade que tem um recorte histórico de um Estado que foi dominado por uma oligarquia familiar, se entranhou muito nas estruturas do Estado, com coisas em períodos eleitoras que são assustadoras.
Por exemplo, nas eleições municipais nós tivemos agora o cancelamento dos debates por parte de diversas emissoras. É injustificável que uma cidade passe por processo como esse pra poder criar clima de "já ganhou" em torno do atual prefeito e do sucessor dele.
Existem essas engenharias que são geradas nas cidades por parte do poderio econômico, a partir do poderio familiar, que fazem com que essas figuras se perpetuem no âmbito municipal há muito tempo. É bem complicado aqui o jogo democrático, de todos os âmbitos que você olhar.
O que eu pretendo fazer é continuar o que estou fazendo: mobilização, participação popular, convidando as pessoas, colocando dentro do meu mandato iniciativas inovadoras que envolvam a população, que façam a população olhar para um político e pensar "tem caminho".
E não acho que eu sou um sonhador solitário, não, porque eu conheço experimentos assim no Brasil inteiro, e a gente está tendo a oportunidade de conversar, de trocar experiências, e acho que essa rede tem potência muito grande de transformação. Eu acredito nisso: que a gente pode encantar as pessoas e envolvê-las na poltíca da cidade, independente de ser de esquerda ou de direita.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay Salvador de entrevistar todas candidaturas LGBT à Câmara Municipal de Salvador.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.