Primeira travesti eleita como presidente regional de um partido político no Brasil, Nega Van é candidata pelo Psol ao cargo de deputada estadual na Bahia.
Nascida na cidade mineira de Brasília de Minas, Nega - apelido de Gabriella Borges de Souza - é moradora do Bairro Baianão, na periferia de Porto Seguro, cidade para a qual se mudou em 2000.
Em outubro de 2021, a candidata chegou à liderança da legenda esquerdista em Porto Seguro.
Estudante de química no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) e aos 42 anos, Nega tem a criação do Transceja, projeto que visa propiciar o retorno aos estudos sobretudo da população trans, dentre suas bandeiras.
Ao Guia Gay Salvador, a psolista falou mais sobre suas propostas.
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT, mas ainda há desafios para a cidadania arco-íris. Quais suas propostas para que Brasil avance nesse campo?
Infelizmente o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis do mundo. A criminalização da homofobia e da transfobia é importante, mas insuficiente no combate à violência contra as pessoas LGBTQIAPN+.
A criminalização não diminuiu o número de assassinatos, pelo contrário, no Brasil houve um aumento de 90% das mortes de pessoas trans e travestis desde 2018.
É preciso políticas públicas que garantam a nossa vida e dignidade com trabalho e renda, cotas em universidades públicas e a permanência nesses espaços de poder e decisão.
É preciso um projeto que abranja toda a comunidade no acesso à saúde pública de qualidade. Para tal, tenho ideia da criação do Transceja (já existe o EJA - Educação de Jovens e Adultos. O transceja é o retorno da população LGBTQIAPN+ aos estudos, principalmente a população trans e travesti, que 82% não conclui o ensino fundamental no Brasil.
Temos também um projeto de indicação ao governador da Bahia, na reserva de 10% das vagas do jovem aprendiz para a população LGBTQIAPN+, em especial pessoas trans e travestis que vivem em alta vulnerabilidade.
Fora a questão LGBT, quais seus projetos para a população brasileira em geral?
Vamos ser a voz do povo baiano de verdade na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), vamos representar a população negra, periférica, mulheres, LGBTQIAPN+, indígenas, crianças e idosos.
Temos projeto na área da educação, a escola em tempo integral com esporte, cultura. Uma escola pública de qualidade, valorizando o profissional de educação, garantindo o plano de carreira, e assegurando o pagamento dos precatórios.
Temos também projeto de construção de hospital oncológico para região do extremo sul da Bahia, projeto de mobilidade urbana com a acessibilidade, criação de cotas em concurso público para a população negra e periférica, LGBTQIAPN+ e indígena.
E ainda, projeto de lei da renda mínima para os baianos que vivem em vulnerabilidade. São 2 milhões de baianos vivendo abaixo da linha da pobreza. Avançar nessa proposta fazendo justiça social, étnico-racial e contra a violência de gênero.
Em que seu mandato vai se diferenciar ou inovar em relação ao que se tem na política atualmente?
Já começa com a mandata, vamos quebrar esse paradigma de mandatos patriarcais e machistas. E vamos conquistar uma mandata na Alba que seja construída com participação popular, e atendendo à necessidade do povo.
Vamos representar verdadeiramente o povo baiano na Assembleia Legislativa da Bahia lutando por políticas públicas afirmativas de qualidade para atender à necessidade da população baiana como um todo. Nas áreas de infraestrutura, saúde educação, trabalho, cultura e lazer. É a voz do povo na Assembleia Legislativa da Bahia.
Essa entrevista faz parte de série do Guia Gay Salvador com candidaturas de pessoas LGBT. O objetivo é dar visibilidade as suas propostas de forma a colaborar com a decisão do segmento arco-íris e simpatizantes na hora do voto.