3 pontos positivos e 3 negativos da 15ª Parada LGBT da Bahia

Marcha fez mais um ano com grandes motivos para se orgulhar. E com ajustes, terá ainda muitos outros para a coleção

Publicado em 13/09/2016

Por Welton Trindade 

Avaliar para evoluir. Passada a 15ª Parada LGBT da Bahia, realizada no domingo 11, hora de ver o que deu certo e o que pode avançar. Quem merece esse balanço são os e as LGBT de Salvador, a cidade como um todo na sua busca por ser um lugar de diversidade, quem constrói a cena LGBT soteropolitana e os turistas arco-íris, cujo coração pode cada vez mais bater no ritmo da percussão multicolorida da capital.  

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Pontos positivos
1 - Semana repleta de eventos

joelma trans

A Parada de Salvador carrega marca importante há muitos anos: ser abraçada pela cena cultural, social e de direitos humanos da cidade. O resultado é uma profusão de eventos que constitui roteiro impossível de ser totalmente contemplado, o que, ao fim, só mostra o quanto a capital ferve em sintonia com a parada. 

Neste ano, houve pelo menos três peças de teatro (Joelma, na foto), debates promovidos pelo Governo da Bahia, seminário em faculdade e no Ministério Público, o sempre gostoso Caruru da Diversidade na UFBA, exposições de fotos, festas... Poucas capitais brasileiras conseguem tanto! 

2 - Diversidade de trios elétricos
De novo Salvador mostra como se faz: nos oito trios elétricos, havia casas LGBT (Bar Burlesque e Boate Tropical), uma empresa internacional com forte postura pró-LGBT (Uber), entidade ativista (Mães pela Diversidade), trio em homenagem a travestis e transexuais (Divas), governo (estadual) e até de um grupo acadêmico de estudos (Diadorim, da Uneb). 

Essa multiplicidade atendeu ao objetivo que nunca pode ser deixado em segundo plano por uma parada, que é mostrar a comunidade LGBT nas suas diversas expressões. Quase a totalidade das marchas LGBT do país não possuem tantos trios, aí, resta aos segmentos e agrupamentos ocuparem o chão em blocos. A de Salvador possui e atende de forma exemplar esse quesito.

Ah, sim, e dá um chega para lá nos extremistas que rejeitam empresas estarem nas marchas. Como se companhias privadas não fossem espaço social para debate sobre diversidade e não tivessem responsabilidade social a cumprir! Recadinho: vão para Cuba! Venezuela é logo ali! 

3 - Mudança do nome

lgbt brasi

Foi uma caracerística única cuja partida é muito bem-vinda. A marcha, até 2015, chamava-se oficialmente Parada Gay, isso como prolongamento do seu criador, o histórico Grupo Gay da Bahia. Neste ano, houve a adesão ao que já está há mais de década por todo o Brasil, que é adotar a sigla LGBT. 

A mudança foi bem marcada pelo tema, que focou travestis e transexuais. A iniciativa merece palmas, embora a programação oficial não tenha dado ênfase a tal proposta. No saldo, um nome condizente com nossos segmentos. 

Pontos negativos
1 - Falha na divulgação turística
De novo, uma marca que merece inveja de muitas paradas pelo Brasil, que é a soma do setor governamental de turismo na viabilização do evento. Aí, atuação digna de louvor da Bahiatursa, que, registra-se, possui histórico nesse apoio. 

Entretanto, houve falha grave na divulgação da parada junto a LGBT fora do Estado. Preparar um grande evento, reconhecer seu potencial turístico e não visibilizá-lo para que LGBT do Brasil e até do exterior sintonizem-se com tal possibilidade não faz sentido. Fica a necessidade de fazer campanhas publicitárias em meios LGBT e colocar, enfim, a parada da Bahia no roteiro de milhares e milhares. 

2 - Problema na segurança pública
Sim, era vísivel a presença da Polícia Militar em diversos pontos da parada, inclusive no meio da multidão que seguia os trios elétricos, algo longe do comum pelo Brasil, mas importante. Entretanto, não são poucos os relatos, por parte de quem foi ao evento, de tentativas de assalto, agressões e intimidações dentre participantes. 

A organização divulgou com orgulho, claro, o número entre 900 mil e 1 milhão de pessoas na marcha. Porém, esse gigantismo - que necessariamente não é algo que sempre seja positivo - evidencia o desafio de dar segurança para tantas vidas. Para os próximos anos, fica o pedido de reforço no policiamento com estratégia e respeito a quem foi sorrir e encher-se de orgulho para os outros dias do ano. 

3 - Necessidade de ser mais LGBT

parada salvador

Ainda na escuta das avaliações da parada, foi muito, muito recorrente - até por ser bem visível - que a marcha não teve as cores do arco-íris tão fortes. E aí fala-se tanto de não ter havido bandeira gigantesca nas cores que simbolizam a luta e a comunidade LGBT, quanto na composição do público. Pensando a parada como expressão e fortalecimento LGBT, importante congregar pessoas que estejam coadunadas com os valores da marcha. 

Entretanto, não foi isso que muitos LGBT sentiram. Até relatos de intimidação de caráter discriminatório houve. Nesse sentido, fica a sugestão de a organização não mirar apenas números gigantescos de público, não cair na falta de identidade de chamar atrações musicais que nada têm a ver com o universo LGBT, repensar seriamente o apoio da rádio Itapoan - que não possui perfil ligado ao público LGBT - e que, como muitos aventaram, fazer a parada em paralelo a outro evento de grande expressão que atraia parcela de pessoas que não vão à parada somarem-se ao que nela é defendido. 

Triste sim ter de tomar atitudes como as sugeridas, mas ouvir de um trio elétrico para que homens deixassem de assediar lésbicas e saber de pessoas que foram discriminadas por serem LGBT justamente no que é o maior evento arco-íris da cidade, isso merece ações fortes. Até porque quem vê a parada apenas como um carnaval setembrino não é bem-vindo. 


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