Amantes no século 19, os poetas Arthur Rimbaud (1854-1891) e Paul Verlaine (1844-1896) não descansarão juntos na eternidade.
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O presidente da França, Emmanuel Macron, rejeitou pedido de entrada dos restos mortais de Rimbaud no Panteão de Paris, monumento onde estão depositados ossos de 78 grandes nomes franceses.
Macron acatou pedido de descendentes de Rimbaud que prefere que restos mortais permaneçam no túmulo da família em Charleville-Mézières, no norte do país.
"Dado o papel particular que o Panteão desempenha na construção de uma memória republicana partilhada, não quero ir contra a vontade expressa pela família do falecido. Os restos mortais de Arthur Rimbaud não serão removidos", declarou Macron, em comunicado, na última semana.
No ano passado, mais de 100 personalidades francesas, incluindo todos os últimos ministros da Cultura e a atual titular da pasta, Roselyne Bachelot, assinaram petição para que as cinzas de Rimbaud migrassem para o Panteão, onde estão nomes como Voltaire, Victor Hugo e Pierre e Marie Curie.
A intenção era que tanto as cinzas de Rimbaud quanto de Verlaine fossem para o Panteão e que isso se tornasse símbolo da diversidade e de ato contra a homofobia. Ambos sofreram, em vida, com a discriminação.
E é justamente a homofobia o motivo da família não aceitar a transferência dos restos mortais. Sobrinha-bisneta de Rimbaud, Jacqueline Teissier-Rimbaud criticou o destaque dado ao caso amoroso entre os poetas. "Todo mundo vai pensar que são homossexuais", disse.
"Mas não é verdade. Rimbaud não começou sua vida com Verlaine e não terminou com ele, são apenas alguns anos de sua juventude", continuou.
"Poetas malditos" do século 19, eles iniciaram relação curta e intensa em 1871.
A petição a favor da continuidade dos dois juntos ia em outro sentido. "São dois poetas maiores de nossa língua" e "dois símbolos da diversidade", dizia a petição. "Eles tiveram de enfrentar a homofobia implacável de sua época. Eles são os Oscar Wilde franceses. Seria justo celebrar hoje sua memória".
No filme, Eclipse de uma Paixão (1995), de Agnieszka Holland, Rimbaud foi interpretado por Leonadro DiCaprio e Verlaine, por David Thewlis.
Rimbaud tinha 17 anos quando conheceu Verlaine, dez anos mais velho. Eles ficaram quatro anos juntos. Quando o jovem poeta decidiu acabar com o romance, houve briga. Rimbaud levou tiro no ombro e Verlaine ficou dois anos preso.