Glitter e fones: 11 DJs drag queens que arrasam nas pistas

No Dia Internacional da Drag Queen, artistas de várias capitais falam sobre sua trajetória

Publicado em 16/07/2022
drag queens dj 2022
Artistas contam sobre produção, cachê e início da carreira

Por Marcio Claesen

Quem acompanha a noite LGBT já percebeu que cresce cada vez mais o número de DJs drag queens.

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Antes restritas às portas das boates - com seus extavagantes looks e fino senso de humor - e ao palcos - em performances de tirar o fôlego - essas artistas agora ocupam todos os espaços.

Mas tocar montada difere em algo de quem discoteca sem produção? O cachê é o mesmo? Há espaço para todas? 

No Dia Internacional da Drag Queen, o Guia Gay conversou com 11 DJs de sete Unidades da Federação, de pioneiras a novatas, que tocam estilos que vão do pop à tribal house e são sinônimos de dedicação e imenso orgulho para a comunidade LGBT.

Alice Cavazzott

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Alice Cavazzott

Natural de São José (SC), Alice se tornou um dos símbolos da arte drag na Grande Florianópolis. O fisioterapeuta André Felipe Santiago conta que começou a se montar há oito anos e a tocar há cinco.

"Um plus para permanecer fazendo a arte foi começar a discotecar para que também fosse possível reduzir os custos de cada produção, que são altíssimos", explica. Só na maquiagem, ela leva quatro horas e contando com a confecção do figurino e do penteado são cerca de 24 horas.

Alice também faz apenas performances e cada atividade tem um preço, mas diz que em geral fecha um combo com o contratante. "Minha apresentanção enquanto DJ já é performance, sempre há dublagens e muito lipsync."

Sobre a cena em sua região, ela atesta que permanece viva. "Posso contar nos dedos os finais de semana que não me montei para estar em um evento trabalhando. Temos um grupo drag muito bacana, com muito suporte umas com as outras e muito incentivo, que é fundamental."

Cassandra Monster

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Cassandra Monster

É quase impossível um frequentador da cena LGBT brasiliense não conhecer Cassandra Monster. Nascido no Gama (DF), Sander Gomes, seu criador, começou a se montar em 2016 e no ano seguinte, a tocar.

Sem a produção, há diferença? "Já toquei desmontado sim", ele responde. "A diferença é a liberdade de poder dançar mais livremente com o público porque quando estou montado as roupas e acessórios me limitam um pouco." Sua produção, ela diz, demora de duas a quatro horas para ser feita.

Cassandra revela que o cachê aumenta "um pouco" quando é contratada para tocar e performar, mas que nunca é dobrado.

A respeito da aceitação do público, ela diz que é cada vez maior. "Eu vejo que a cena drag está ganhando espaços importantes tanto no meio de Brasília quanto fora... E drag DJ é um diferencial, né? Chama mais atenção."

Jhey Apfel

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Jhey Apfel

Natural de Divisópolis (MG), no Vale do Jequitinhonha, Jhey Apfel ganha cada vez mais espaço no pouco tempo em que está na cena soteropolitana.

O alter ego de Geverson Rodrigues, de 28 anos, nasceu há três anos. "Comecei a me montar através de um concurso de drag chamado TNT, que foi minha primeira experiência e me lancei a partir disso Essa foi minha primeira paixão!", lembra.

Geverson nunca tocou desmontado e acredita que não seria a mesma coisa. "A minha personagem me permite ser mais eu! Eu consigo romper mais barreiras e me expressar de forma mais intensa!", diz. Sua produção leva de duas a quatro horas.

Suas performances costumam ser em bares, mais intimistas e com cachê que varia de acordo com o tamanho do público, e a discotecagem em lugares maiores, como clubes, com valor fixo.

"Me vejo como uma profissional nova, que vem buscando reconhecimento e galgando espaços. Estou no início da carreira, mas sei exatamente onde quero chegar enquanto drag e DJ", finaliza.

Kim Mahara

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Kim Mahara

Se Jhey é mineira e faz sucesso na Bahia, Kim Mahara é natural de Cocos, no oeste baiano e está fazendo sua carreira em Brasília.

Thales Vinicius - o nome por trás da personagem - está com 23 anos e começou a se montar há três. O foco nas pick-ups surgiu no ano passado.

Ele fala da diferença de tocar montado e desmontado. "Por mais que as pessoas assimilem que o Thales é o criador da Kim Mahara, é totalmente diferente, a atenção do público é outra, às vezes dizem até que 'preferem a Kim tocando'."

As performances ficaram no passado. Kim, agora, tem se dedicado apenas à função de DJ. Só a maquiagem precisa de 45 minutos a uma hora de dedicação. "Pra aguentar um evento todo, tem que haver um preparação melhor da pele antes", explica. Com mais o look, o tempo sobe para uma hora meia a duas horas.

E como esse baiano vê a cena drag da capital do País? "A cena drag em Brasília é babado (risos). Às vezes, tem aquela que quer ser melhor que a outra (acredito que em todo meio profissional seja assim), porém sempre tem aquele grupo de drags que se ajudam", diz.

Las Bibas From Vizcaya

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Las Bibas from Vizcaya

Eis uma veterana. A história de montação e de trabalho com a música remonta há três décadas para Las Bibas from Vizcaya.

A artista recifense, que define sua idade entre 27 e 61 anos ("dependendo do Botox", explica), começou lançando produções, remixes e áudios em 1994. "Em 1998 veio a primeira vez ao vivo tocando montada por uma casualidade", recorda.

Ela seguiu tocando montada e desmontada por bastante tempo. "Tem mais de 10 anos que apenas a DJ drag toca. Existe muita diferenca, desde os olhares, a liberdade que a personagem te dá para tudo, até para paquerar", conta, aos risos. A transformação, incluindo make, roupa e cabelo, leva exatas três horas.

Las Bibas, que tem foco em música eletrônica e costuma fazer frequentes apresentações em inúmeras cidades pelo mundo, diz que acompanha o cenário drag nacional pelas redes sociais.

"Depois da pandemia eu foquei mais na minha carreira internacional que já vinha em ascenção desde 2018 e eu pouco tenho tocado aqui", afirma. "Durante vários anos, fomos apenas eu e depois a Leiloca Pantoja no Brasil, e no exterior eu e a Nina Flowers (somos as únicas com carreira internacional)", pontua.

"Vários nomes começam a surgir aqui e fora do Brasil, mas são muitas de outra segmentos (quase sempre do pop) e talvez por ser uma geração pós-Rupaul Drag Race (no drag) e geraçao pen-drive/mp3 , lhes faltem expêriencia sonora e principalpemte conhecimento e aprofundamento", diz Las Bibas.

Leiloca Pantoja

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Leiloca Pantoja

Citada pela colega de profissão Las Bibas, Leiloca é outra referência nacional quando se fala na combinação montação + DJ.

"Me monto e toco profissionalmente desde 2007, primeiro veio o DJ, logo após a montação", conta Edwin Paladino, de 46 anos, o artista por trás da Leiloca.

"Sempre toquei nas festinhas dos amigos, me apaixonei pela discotecagem, e quando me visto de mulher pra tocar numa festa no Clube A Lôca (SP), a paixão vira profissão", lembrou o DJ paulistano sobre seu começo.

Edwin também toca desmontado, mas como drag o cachê é maior. "Há as roupas, a maquiagem, acessórios, perucas. Mulher é mais cara", afirma, aos risos, sobre a produção que leva cerca de uma hora para ficar pronta.

"Hoje há muitos clubes e festas pela cidade, existe espaço para todas, as antigas e as novas", pontua Leiloca sobre o "boom" de DJs drags pela capital paulista.

Mana Bombástica

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Mana Bombástica

Falando nas novas, Mana Bombástica é uma das revelações da cena paulistana. "Como DJ e como drag faço os dois há dois anos. Comecei tudo junto na pandemia em 2020", lembra o goiano Wesley Roberto, de 27 anos, sete deles em São Paulo.

"Criei a personagem para me ocupar devido ao que estava acontecendo e comecei a fazer vídeos para o YouTube e o TikTok e acabou não dando certo", diz sobre a paixão pela arte drag que surgiu aos seus 18 anos, quando se assumiu para a família.

Ela não desistiu. Em uma live, nasceu Mana. "Fiquei bastante conhecida por tocar tribal e fazer performances tocando. Quando tudo voltou ao normal, o pessoal começou a conhecer, de fato, o meu trabalho, me dando oportunidade de tocar na Tunnel, Danger, Bar Verde. Grupo Ressaca, Alôka", afirma a DJ que é autodidata e aprendeu a tocar vendo vídeos na internet.

Seu foco é continuar tocando montada. "No começo de criação da Mana, toquei algumas vezes de menino, porém eu não sentia aquela energia toda, eu me sentia travado, não conseguia fazer um trabalho bacana", revela. "Até que eu vi que eu teria que me dedicar ainda mais à arte drag, a qual eu amo fazer e me sinto feliz no que faço."

"Nesse processo de palco eu ainda não tive a experiência de perfomance. Já recebi propostas e sempre recebo, porém ainda não é o momento. Faço bate-cabelo enquanto toco, dublo, o que não deixa de ser uma perfomance."

Myllena Vox

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Myllena Vox

Myllena Vox sabe exatamente o primeiro dia em que se montou: 31 de maio de 2015. Neste mesmo tempo, Laerte - o criador por trás da criatura - fez curso de DJ. Desde 2017 toca como drag.

A paulistana diz que jamais conseguiria se apresentar sem a personagem. "Toco apenas como Myllena Vox! Nao conseguiria fazer 20% do que faço desmontado!", avisa.

A DJ - que leva até três horas para se produzir - não faz performance em palco e acredita, como várias de seus pares, que a atuação na cabine já é completa. "O que eu faço já considero uma performance, dublagem, habilidades extras com leque enquanto toco", conta rindo.

Ela está ciente dos novos nomes que adentram a cena. "Eu vejo que tem surgido muitas drags, de vários estilos por vários estados! E acho isso incrivel!! A arte drag tem que cada vez mais se alastrar mesmo e obviamente espaço tem pra todas! Cada uma com sua luz, sua arte."

Ravena Creole

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Ravena Creole

Uma década é o tempo de carreira de Ravena na montação, que se apaixonou por essa arte primeiramente por causa da maquiagem.

"Estou completando 10 anos esse ano de 2022 e sou drag DJ há 8 anos", diz a artista, que se entendeu como pessoa trans não-binária durante esse processo e hoje tem Ravena como nome pessoal e artístico.

Ela diz que nunca tocou desmontada. "Com certeza tem uma diferença para mim porque quando estou tocando é meu alter ego que predomina e exala toda minha essência da minha personalidade", explica.

Suas apresentações também já mesclam discotecagem e performance. "Normalmente já está tudo incluso no meu cachê, porque eu toco e performo algumas músicas dando aquele close, mas quando é algo bem mais produzido eu abro meu set fazendo uma performance mais elaborada e o cachê é um pouco mais caro."

A carioca explica que pela demanda do trabalho, hoje já consegue se produzir em 1 hora e meia. Mas se o foco for algo muito elaborado, "eu levo cerca de duas horas meia, três horas".

Sobre a cena drag do Rio, Ravena afirma que é bem diversa, com vários estilos de drags e personalidades. "Isso é muito bom, porque acaba se tornando muito plural e precisamos cada vez mais estar inseridas em todos lugares", afirma.

"Eu acho ótimo que está rolando um boom das drags DJs, precisamos conquistar nossos espaços e acima de tudo, trabalhar, e por experiência própria eu sei que trabalhar como DJ acaba ajudando muito na vida financeira e conseguirmos inclusive investir mais na nossa drag."

Sasha Zimmer

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Sasha Zimmer

Natural de Limeira, interior de São Paulo, a artista se monta há 15 anos e também se descobriu como pessoa trans não-binária em meio à sua carreira. Hoje, ela tem Sasha como seu nome real e artístico ao mesmo tempo.

Sua experiência como DJ se iniciou em 2011. "Surgiu um convite para uma discotecagem e de lá pra cá sempre senti essa conexão mais profunda com a música. O palco sempre foi a minha paixão, então de todas as formas que eu puder estar nele, estarei realizado", afirma.

Sasha responde que nunca tocou desmontada, por ser tímida, mas que não descarta a possibilidade.

O cachê é maior se há performance? "Impossível medir um valor sobre o meu trabalho, o que eu cobro é o meu tempo, meu estudo e a preparação que eu tenho para realizar o meu trabalho", ela diz. "O cachê é referente a minha história, a forma como eu trabalho em cima do palco. Então o cachê tem que ser justo e proporcional ao trabalho que eu entrego."

Vencedora do reality Academia de Drags, Sasha afirma que participar desse tipo de programa a ajudou a finalizar a produção mais rapidamente.

"Se eu já estiver com certeza do que eu quero usar e fazer, em torno de uma hora e meia já estou pronta. Reality show faz com que a gente aprenda a ser rápida, principalmente em maquiagem. Fico pronta em torno de 45, 50 minutos."

Ela fala sobre as drags e as cabines. "Existe uma cena muito forte de drag em São Paulo, mas ainda acho que é dentro de uma bolha. Temos excelentes artistas e nomes fortes que representam muita história, força e coragem. DJs drags existem há muito tempo, mas acredito que é uma forma de se expressar além dos palcos, que muitas vezes se limitam. Mas é sempre importante estudar e ter ciência do que se está fazendo ali."

Stella Campy

11 DJs drags famosas da cena gay e LGBT do Brasil: Stella Campy

Matheus Firmino tem apenas 22 anos, mas com uma trajetória já consistente. Ele se monta há cerca de seis anos e há quatro também toca montado como seu alter ego, Stella Campy.

Natural de Belo Horizonte, o artista conta em que situação ele prefere tocar desmontado. "Com a rotina e correria, às vezes fico muito cansado e esgotado, então minha energia social se esgota e quando acontece isso prefiro tocar desmontado."

"Quando toco montada, transmito toda minha energia para o público, então me jogo 100% e quando não estou bem pra isso, prefiro não me montar. A diferença é surreal, por mais que as pessoas saibam quem sou eu, é uma diferença grande em todos os níveis", destaca.

"Não faço peformance, não me sinto confortavel, mas meu set já é uma peformance em si", diz a DJ que leva em torno de uma hora e meia a duas horas para se preparar como Stella.

Ela vê prosperidade na cena drag nacional, mas pontua que falta reconhecimento para artistas locais.

"A cena drag no Brasil em si se tornou muito forte e muito grande e isso é incrivel demais!", diz. "Em BH, temos artistas incriveis, só não vejo uma valorização grande com as artistas locais como deveria ser, pois movimentamos a cena LGBTQIAP+ de BH."

 

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