Por Marcio Claesen
Saída do armário, fetiches sexuais, homofobia e crítica social são temas do drama Vento Seco, que estreou nesta quinta-feira 5 em plataforma virtual e em cinemas de algumas capitais.
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Estreia em longas de ficção do diretor Daniel Nolasco, o filme se perde ao tentar abarcar temas demais e forçar representatividade das identidades e comportamentos que compõem a sigla LGBT.
Em um árido estado de Goiás, somos apresentados a Sandro (Leandro Faria Lelo) que trabalha em uma fábrica de fertilizantes.
Gay não assumido, Sandro passa o dia comentando sobre demandas por melhores condições de trabalho com a também funcionária e líder do sindicato Paula (Renata Carvalho) e as noites com devaneios sexuais.
Mas o sexo também é posto em prática. Ele se envolve com outro empregado da fábrica, Ricardo (Allan Jacinto Santana), com quem tem encontros regados a muito "nasty sex" (sexo sujo) no meio do mato.
A chegada de mais um funcionário, Maicon (Rafael Teóphilo), prenuncia um triângulo amoroso e coloca mais um fetiche em cena: o leather, já que ele se veste, nas horas vagas, de couro completo.
Sandro está preso no armário e não se abre nem com Paula, sua melhor amiga, que finge não perceber. Ricardo, no entanto, não se contenta com este amor às escondidas e está disposto a assumir o relacionamento.
Por medo, Sandro passa a mostrar ao espectador desvio de caráter em soluções pouco críveis. Neste momento, o filme já se perdeu.
Lento e longo demais (talvez 75 minutos desse conta da história), Vento Seco perpassa por inúmeros fetiches em mistura de realidade e fantasia do protagonista.
Rimming, pissing, pet play, bukkake. sexo oral real, motocilclista e policial militar são algumas das práticas e elementos que se sucedem em meio a cenas que remetem a Tom of Finland, Pedro Almodóvar, Alain Guiraudie, videoclipes e pornô gay.
Neste imbróglio de sequências sexuais, surgem as "identidades" colocadas gratuitamente, como um "escravo" que parece representar a letra Q de "queer" ou uma drag queen (ou seria cross-dressing?) em uma cena só de homens.
No restante do elenco, a presença de representantes variados da sigla LGBT continua. Se por um lado, um homem trans, o ator Leo Moreira Sá, sai-se muito bem como o funcionário cis hétero Cezar, o mesmo não se pode dizer de Renata Carvalho. A atriz parece declamar o papel e tem atuação sofrível.
Se quisesse manter uma atriz trans em papel destaque, opção teria sido trocá-la de personagem com Mel Gonçalves, que faz a caixa de supermercado Rita de Cássia, muito mais à vontade nas telas e com brilho nos poucos momentos que surge.
Se a sexualidade do trio protagonista foi levada em conta no momento da escalação, não se sabe, mas apenas Santana se destaca.
Teóphilo, que está envolto a um núcleo familiar que não convence, parece perdido e Lelo teve a difícil missão de arrancar empatia com um personagem complexo, nada simpático e apresentado de maneira confusa.
Por fim, Vento Seco poderia ser uma reflexão sobre a sexualidade gay, mas fica apenas à margem e desgovernado no afã de representar uma sopa de letrinhas indigesta e de fantasias sexuais.
O filme pode ser assistido na plataforma on-line Sala Maniva ou nos cinemas - verifique na Agenda do Guia Gay se ele está em cartaz na sua cidade.
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