O fato do papel de uma drag queen num dos musiciais LGBT mais famosos de todos os tempos ter sido oferecido a Reynaldo Gianecchini e aceito por ele tem sido alvo de críticas de parte desse segmento de artistas.
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Em junho, o ator de 51 anos viverá Tick/Mitzi, um dos protagonistas de Priscilla, a Rainha do Deserto, que ganha nova montagem em São Paulo.
Várias drags acreditam que o personagem deveria ser interpretado por um artista que tem vivência como drag. Elas questionam também a escolha de um nome que não possui experiência com canto nem dança e que faz questão de dizer que não levanta a bandeira LGBT.
"Fico assustado quando vejo um espetáculo com essa envergadura fazer esse tipo de escolha. Por que ele?", pergunta Gabriel Sanches, a drag Sara, da dupla Sara & Nina, e que também viveu uma drag, a Rubia, na novela Pega Pega (2017), da TV Globo, ao site F5.
Gabriel prossegue: "Como dentro de uma comunidade com tantos artistas fabulosos, que cantam, dançam, sabem maquiar, costurar, produzir, criar, não tinha uma que pudesse fazer essa protagonista?"
Além de Giane, estão no elenco principal Diego Martins, o Kelvin de Terra e Paixão, como Adam/Felicia, e as atrizes trans Verónica Valentino e Wallie Ruy, que se revezam no papel de Bernadette.
"Como alguém cogitou colocar uma pessoa que não é drag para interpretar uma drag? Assim como acho estarrecedor quando consideram não escalar uma pessoa trans para interpretar uma pessoa trans", reflete Victor Ivanon, que dá vida à drag Ivana Wonder.
"O que eu acho mais sério está acima do Gianecchini, afinal é difícil dizer 'não' quando você recebe um convite", diz Alessandro Brandão, a Nina da dupla drag Sara e Nina. "É preciso ter muita consciência social para dizer 'esse trabalho não é para mim'."
"É um ciclo que precisa ser quebrado lá na origem. Quem tem o poder de convidar o Gianecchini teria o poder de convidar qualquer outro artista drag e dar oportunidade a quem está à margem há tanto tempo."
Felipe Santo, que interpreta a drag Audácia em shows de stand-up comedy, fala da falta de posicionamento político do ex-ator global.
"Não é opcional se posicionar enquanto pessoa LGBTQIAPN+", diz. "Enquanto tá caindo o pix, beleza, mas se posicionar, 'levantar bandeiras', como ele costuma dizer, ele não quer."
Gianecchini saiu do armário como bissexual (ou pansexual, como costuma dizer), em 2019 e disse que nunca quis "levantar bandeiras".
Sobre a personagem drag, o ator revelou à CNN que não tem intimidade com o universo drag e que só canta "no chuveiro".
"E cantar em um musical é um preparo bizarro", afirmou. "Eu estou estudante. Vou lá todo dia e tento dar o meu melhor. Dançar, estamos falando de níveis de dificuldade: não é só dançar, é dançar num salto 15, porque é uma drag. O nível de dificuldade é gigante. Me sinto como se eu estivesse lá atrás, em Laços de Família, que eu resolvi fazer uma coisa muito difícil, que eu não tinha experiência."
Procurada pela reportagem, a produção do espetáculo justificou a escolha do elenco "a partir de critérios artísticos estabelecidos" pela direção, "que sempre busco abraçar a diversidade de gêneros e orientações sexuais da comunidade LGBTQIAP+, tema da montagem que preza, antes de mais nada, por uma jornada de acolhimento e amor entre todas as pessoas".
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