Para fazer o trabalho de escola sobre o importante tema da misoginia, Joãozinho confecciona um cartaz com o que encontrou ao buscar o termo no dicionário do maior buscador que existe na internet e acessado por 97% de quem utiliza a rede no Brasil.
O que está escrito? "Misoginia. Substantivo feminino. 1. ódio ou aversão a mulheres. 2. aversão ao contato sexual com as mulheres."
Sim, um dos mais respeitados dicionários do mundo, o Oxford, usado pelo Google, trata como algo misógino, discriminatório a homossexualidade masculina! E inclusive a heterossexualidade feminina!
Não é novidade que a cultura "woke", desvirtuamento da luta identitária rumo ao desrespeito aos direitos humanos, já tem homossexuais em seu alvo. A acusação de que é discriminação não transar com determinado tipo de pessoas é exemplo.
O que agora indica a definição usada pelo Google é que tal postura contra a liberdade de afeto e desejo ganha escala: a homossexualidade masculina em si já seria desrespeitosa, excludente.
Enfim, algo a ser consertado em nome do que embalam como "direitos humanos" para que não possa ser questionado, apenas aceito. Debater já seria um tipo de absurdo e apontado como vilania.
A questão ganha gravidade por o Brasil estar em pleno debate para criminalizar a misoginia e prever até prisão para quem a comete. O ponto é: pela definição do dicionário Oxford, rejeitar sexo com mulher deveria estar no rol de crimes! E pelas ideias de normas a respeito?
Analisemos duas propostas legislativas apresentadas este ano no Congresso Nacional que miram a criminalização da misoginia. O preocupante do ponto de vista social e falho do ponto de vista jurídico é a conceituação frouxa. Parece caber tudo!
Com justicativa curta e rasa e texto simplório, o projeto de lei da senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA) não se preocupa em definir o termo no corpo da pretensa norma. Fica em aberto.
Na justificativa, o escrito flerta com a definição do dicionário: "Misoginia é o sentimento de ódio, repulsa ou aversão às mulheres". Novamente, a palavra aversão, aqui sem nenhum qualificador.
A continuidade mantém o conceito tão amplo que caberia qualquer interpretação. "É uma forma extrema e repugnante de machismo, que deprecia as mulheres e tudo que é considerado feminino, podendo manifestar-se de diversos modos."
Procurada pela reportagem, a senadora não respondeu.
Outra iniciativa é uma ideia legislativa, ou seja, algo postado no site do Senado e que recebeu pelo menos 20 mil assinaturas de cidadãos. A autora é a pesquisadora em psicologia Valeska Maria Zanello de Loyola, que atua na Universidade de Brasília.
A justificativa possui tantos argumentos e definições que chega a perder-se. Está aí denúncia sobre o quanto o corpo e existência das mulheres foram desrespeitados e minorizados e o grande nível de violência física que o segmento sofre.
Dentre muitas linhas, novamente o uso amplo da palavra repúdio.
"A misoginia é o discurso de ódio e repúdio às mulheres e a todas as características e qualidades a elas relacionadas."
Como já é corrente dentre feministas, há a qualificação de misógino o fato de um homem gay, por exemplo, dizer ter nojo de vulva. Seria motivo para punição para tal lei? A conceituação frouxa dá espaço para tal. E se for uma mulher hétero a dizer aquela frase?
O psicanalista e ativista gay Eliseu Neto confronta a tentativa de tratar como misoginia o fato de um homem gay rejeitar contato sexual com mulher.
"Ninguém pode ser punido pelo desejo. Ter aversão ao contato sexual com mulher não é misoginia. Torna-se misoginia se houver atos tais como ofender e agredir", disse ao Guia Gay.
Nota: o Ministério das Mulheres e Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania foram procurados pela reportagem para se pronunciarem sobre o tema, entretanto não responderam. O Guia Gay registrou queixa na Ouvidoria do governo federal para denunciar tal desrespeito com o trabalho da imprensa.
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