Um casal gay teve seu sonho de serem pais interrompido supostamente por homofobia.
Juliano Peixoto de Pina e Johnatan Pereira de Araújo perderam a guarda provisória da filha apenas 12 dias depois da criança chegar em casa.
O casal, que vive em Pirenópolis (GO), esperou seis anos na fila da adoção, cumpriu todos os procedimentos recomendados, tais como participação em reuniões de preparação, entrevistas com médicos e psicólogos, e entrega de inúmeros documentos.
Em agosto de 2020, foram contatados pela Vara da Infância e Juventude da cidade e souberam que os pais dependentes químicos perderam a guarda de cinco crianças. Todas haviam ido para os chamados "lares acolhedores".
Os dois disseram que não tinham condições de adotar todos os irmãos, e manifestaram interesse em adotar a criança mais nova, Ana Sofia.
Um mês depois, eles foram chamados para assinar documentos para a guarda provisória do bebê, que eles passaram a chamar de Aurora.
Mas, então, algo inesperado ocorreu: a família acolhedora não quis entregar a criança. O casal entrou com mandado de busca e apreensão da criança.
"Em um primeiro momento estava tudo certo. Coloquei a família acolhedora dentro da minha casa e expliquei que daríamos amor e todo o cuidado possível. Eles foram embora e nós continuamos nossa vida com a nossa filha", contou Juliano ao Mais Goiás.
Apenas 12 dias depois, a família acolhedora conseguiu liminar na Justiça, que levou em consideração o laço afetivo que a mãe acolhedora teve com a criança.
Juliano e Johnatan não desistiram. Eles aguardam o julgamento de um agravo interno no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), que deve ocorrer no próximo dia 15. Caso percam, eles levarão o caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Segundo Juliano, o retorno de Aurora à família acolhedora é ilegal, já que essas famílias não podem adotar menores abrigados.
"O sentimento é de que tem um preconceito velado por sermos um casal homoafetivo. Somos habilitados para a adoção, a lei nos ampara. Juridicamente, a família acolhedora não tem direito de adotá-la, justamente para evitar adoções à brasileira como ocorreu. A família que acolheu provisoriamente não está apta, não passou pelo processo previsto no SNA", explicou.
O casal criou perfil nas redes sociais com pedido de apoio na luta pela guarda da criança. Um abaixo-assinado também foi criado.
"O quartinho dela está todo montado. Tudo organizado. O tempo está passando, a saudade aumenta e a esperança que ela volte vai morrendo, mas não vamos desistir”, afirmou.
"A dor que sentimos sem ela [Aurora] é imensa. Nós somos os prejudicados na história. É como se o abrigo impedisse que uma criança fosse adotada. É inadmissível."
Em vídeo publicado nas redes sociais, a mãe acolhedora, chamada Thays Veiga Miranda, afirma que é madrinha da criança e conhece a família biológica da menina.
Ela diz que não faz parte do programa de família acolhedora e apenas assinou um termo para ser a responsável provisória da criança. "
"Ela é minha filha, independente de laço sanguíneo. A gente já recebeu visita psicossocial, já passei por todos os trâmites que precisam para adotar uma criança. Já entramos com processo de adoção dela”, afirmou.