O ataque contra o bar gay London Pub, no centro de Oslo, na madrugada do sábado 25, foi presenciado por ao menos um brasileiro.
Gerente de um escritório de arquitetura na capital norueguesa - onde vive desde 2009 -, Rodrigo Blum-Jansen, de 37 anos, foi uma das pessoas que sobreviveram sem um arranhão, mas vão levar para sempre as imagens daquela noite na memória.
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"Estou com mais raiva do que tristeza. Para mim, o bar gay é muito mais do que um lugar de diversão", disse Rodrigo ao G1.
"É o único lugar que eu posso ir e me sentir 100% eu mesmo, e isso para mim é um ato político. É como se estivesse em uma festa em casa, e alguém que não gosta desta festa veio e apagou as luzes."
Segundo Rodrigo, o atirador - o norueguês de origem iraniana Zaniar Matapour - disparou da rua contra clientes que estavam na varanda do bar, que se encontrava lotado, já que era véspera de parada LGBT na cidade.
"Ouvi o barulho dos tiros mas achei que eram copos de vidro caindo no chão, então nem dei muita atenção", relatou. "A cidade é tão tranquila que jamais pensaria que seriam tiros."
"De repente, veio uma onda de pessoas na nossa direção, empurrando e gritando que estavam atirando. Esta é uma frase que jamais ouvimos aqui."
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O grupo então quebrou uma porta que dá para um porão. Enquanto descia os degraus apertados, Rodrigo percebeu que um homem em sua frente estava ferido: "Ele caiu de barriga para o chão, e eu vi que ele tinha um buraco na nuca, mas conseguiu se levantar e andar devagar."
Assim que chegou ao subsolo, o gerente percebeu que não havia outra saída. "Não tinha janela, não tinha nada. Eu logo pensei na boate Kiss, e depois em Utoya (ilha ao lado de Oslo onde, em 2011, um atirador invadiu um encontro de jovens e matou 69 deles). Olhei para um amigo e disse: é isso, acabou."
Cerca de 15 minutos de silêncio total e angústia entre os que se escondiam no porão, sem saber o que acontecia lá fora e se o atirador seguia no bar, a polícia chegou ao subsolo.
"Eles já entraram perguntando se havia alguém machucado. Tinha muita gente com sangue no corpo, mas em pé. Os bombeiros foram tirando os machucados e, 15 minutos depois, nós saímos por uma outra porta, que dava acesso ao bar ao lado."
Quando deixou o bar, Rodrigo conta que o local já estava isolado, helicópteros sobrevoavam a área e a bolsa de onde o suspeito tirou a arma estava na frente do estabelecimento.
"Só quando cheguei em casa percebi que passei esse tempo inteiro com um copo de cerveja na mão, que eu bebia quando houve os tiros. Ninguém acreditava. No porão, nos perguntávamos: isso está mesmo acontecendo aqui?"
Zaniar, de 42 anos, foi preso pouco depois da polícia chegar ao local, está detido e se nega a prestar depoimento, a não ser que seja em uma transmissão ao vivo.
Ele tem histórico de violência, mas nada tão grave quanto o que provocou no sábado.
O ataque deixou dois homens mortos - um na faixa dos 50 anos e outro com por volta de 60 anos - 10 feridos graves e 11 feridos com pouca gravidade.
A parada LGBT que seria realizada no sábado foi cancelada e uma manifestação foi organizada no centro da cidade, na segunda-feira 27, para pedir paz e mostrar compaixão aos atingidos.