Um padre de São Paulo é alvo de denúncia que envolve violência sexual e ameaça e pedido de R$ 5 milhões de indenização.
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Elissandro Dias Nazaré de Siqueira, de 24 anos, acusa o padre Bartolomeu da Silva Paz de tê-lo violentado desde que ele era menor de idade e nas dependências da casa paroquial da Igreja de Monte Serrat, que fica no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
De acordo com os autos do processo judicial que tramita na Vara Civil do Estado de São Paulo, revelado pela Isto É, tanto a casa paroquial quanto a Associação Cultural e Beneficente para o Bem-Estar do Idoso, ligada à igreja e presidida pelo padre, teriam sido usadas para festas privadas.
Os homens que o religioso convidada para as festas, musculosos e bastante jovens, faziam uso até da piscina do local, como mostram fotografias anexadas ao processo, informa a publicação.
Segundo Elissandro, em um dos quartos da associação, ele teria acordado com "dores na região do ânus e com a cueca sanguinolenta".
Áudios e mensagens escritas também foram anexados ao processo. Em uma delas, de 25 de maio de 2016, às 23h55, algumas horas após celebrar a última missa, o religioso teria escrito ao jovem: "Tô de pau duro". Dois minutos depois: "Louco pra te comer". Ainda sem resposta, às 23h58, pergunta: "E vc está afim (sic) de dar?". Elissandro responde: "Não".
Procurado, padre Bartolomeu não se manifestou à reportagem.
Na ação, de mais de 700 páginas, Elissandro pede R$ 5 milhões de indenização a serem pagos pelo religioso e pela cúpula da Igreja Católica do Estado de São Paulo.
Também são acusados na ação o Cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo; Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo; Dom José Roberto Fortes Palau, bispo de Limeira (SP) e o padre Adauto Pereira de Castro.
Castro é acusado de tentar violentar Elissandro. Já o cardeal e os bispos são citados porque teriam tentado proteger padre Bartolomeu. Dom Odilo nega as acusações em nome dele e dos representantes da arquidiocese.
Segundo advogados de Elissandro, Dom Odilo teve conhecimento das condutas do padre no início de 2018. Em março daquele ano, Bartolomeu pediu afastamento das funções de pároco. Ele foi promovido a atuar na Paróquia Santa Cecília, na região central. Ele está proibido de celebrar missas públicas desde 2 de abril de 2018, mas pode atuar de forma reservada.
Em julho de 2019, a defesa de Elissandro escreveu carta ao Vaticano, endereçada ao Papa Francisco, mas não teve resposta.
Há algumas semanas, os advogados da vítima souberam que a arquidiocese editou um decreto em que determina a suspensão do ministério sacerdotal do padre Bartolomeu pelo período de três anos.
Na prática, não há nova punição, já que ele não celebrava mais missas desde que os escândalos sexuais começaram. No documento, assinado em 11 de março de 2020, Scherer alega que não foram comprovados "delitos de abuso sexual contra menor de idade, nem delito perpetrado com ameaças ou violência" cometido pelo padre.
"Foram comprovados [contra o padre] comportamentos e atos de cunho homossexual e de infidelidade à promessa do celibato, com escândalo, e não condizentes com a dignidade do sacerdócio", diz o documento.
O decreto determina ainda que Bartolomeu "seja recolhido, ao menos por um ano, em uma instituição de ajuda a sacerdotes, a ser indicada pela Arquidiocese de São Paulo".
Durante o período da "pena", o padre terá de ter, segundo o documento, acompanhamento psicológico e de um sacerdote, ambos indicados e "de confiança" da Arquidiocese.
O arcebispo também afastou o padre Bartolomeu da direção e administração da associação para o bem-estar do idoso, onde teriam ocorrido os atos. Segundo o documento, o padre teria "agido de maneira irregular em relação às normas administrativas da Diocese".
Elissandro vive em uma chácara de São Paulo enquanto aguarda decisão da Justiça. Ele diz que não teve relacionamento amoroso com o padre e que todas as vezes em que ambos tiveram relações foi porque foi ameaçado.
"Ele ficava me ameaçando de morte. Ele tinha uma arma, ele me ameaçava. Ele escondia a arma no guarda-roupa dele, e falava que se eu dissesse alguma coisa ele ia matar a minha família. Eu tinha medo. Eu nunca quis estar com ele", disse.
Elissandro afirma sofre com síndrome do pânico e que já tentou tirar a própria vida. "Espero que justiça seja feita. É difícil, já tentei me matar, fico vendo que nada é feito. Fui abusado, isso aconteceu comigo. As pessoas acham que é pelo dinheiro, mas eu quero que a justiça seja feita."